terça-feira, 26 de novembro de 2013

Por que Israel e Arábia Saudita se opõem ao acordo nuclear com o Irã

Autoridades do Ocidente e do Irã após acordo (foto: AFP)
Sauditas e Israelenses podem compartilhar inteligência para investigar Teerã
O acordo do último fim de semana entre o Irã e as potências ocidentais, que amplia a distância entre Teerã e uma arma nuclear, é o avanço mais significativo na disputa nuclear envolvendo o país nos últimos dez anos.

Mas para Israel, Arábia Saudita e outras monarquias árabes, as fotos de seus alidados americanos e europeus celebrando um acordo com seu rival histórico têm implicações perturbadoras.

O premiê israelense Benjamin Netanyahu afirmou que o acordo foi um "erro histórico" que "torna o mundo um local muito mais assustador".

Um analista de política externa saudita disse que a negociação estaria "dando mais espaço ao Irã". Mas o que explica essa angústia?

Desde a Revolução Iraniana de 1979, Israel e as monarquias árabes têm visto o Irã como uma grande ameaça. Teerã deu dinheiro e mísseis sofisticados para grupos militantes da periferia de Israel – sendo o mais significativo deles o Hezbollah.

As monarquias árabes argumentam que o Irã teria minado suas monarquias sunitas e suas nações majoritariamente sunitas ao apoiar determinadas comunidades xiitas no interior desses países.

Insulto e injúria
Em 2003, a invasão americana ao Iraque transformou o país de inimigo em aliado do Irã. Em 2011, os Estados Unidos não intervieram na queda de um outro regime contrário ao Irã, dessa vez no Egito.

Mais recentemente, a Arábia Saudita se chocou quando a Casa Branca cancelou repentinamente seus planos de bombardear o regime sírio. Riad via o ataque como uma oportunidade para reverter a influência do Irã.

A Arábia Saudita foi informada do cancelamento do ataque pela rede de TV CNN em vez de saber por meio de uma autoridade america – o que foi considerado um insulto e prejudicial à relação dos dois países.

Para esses países, a diplomacia nuclear é, portanto, mais do que uma disputa sobre armas. Eles temem que o Ocidente tenha diminuido a pressão de forma prematura, antes de o Irã se render completamente – deixando o país com infraestrutura suficiente para construir a bomba no futuro.

Os aliados amerianos devem ser particularmente afrontados na medida em que o acordo prevê que o Irã continue o enriquecimento de urânio (ainda que sob pesadas restrições) indefinidamente – algo ao qual Israel se opôs de forma veemente.

Mas o maior medo deles é que isso abra a porta para uma acomodação do Irã na região que, combinada com um interesse americano cada vez maior na Ásia, levará a uma erosão progressiva da inclinação americana e habilidade para proteger os interesses israelenses e árabes contra a intromissão iraniana.

De certa maneira, esse medo de abandono é uma retomada de ansiedades antigas. Em uma viagem recente ao Golfo, uma autoridade de um país árabe me disse: "nós nos lembramos de um tempo em que os Estados Unidos eram mais próximos do Irã do que da Arábia Saudita". Ele se referia ao regime dos xás do Irã.

Esses receios são exagerados, apesar de sinceros e amplamente presentes no Oriente Médio. São reforçados não apenas por esse acordo, mas pela forma como foi negociado.

Foi dito que os Estados Unidos estavam travando negociações bilaterais secretas com o Irã desde junho, um pouco antes da eleição do presidente iraniano Hassan Rouhani – incluindo o período do cancelamento dos ataques à Síria. A Arábia Saudita teria alertado secretamente Israel os contatos clandestinos.
 
Reaproximação
Isso ressalta duas tendências interessantes. Primeiramente, as percepções saudita e israelense estão convergindo mais, apesar do fato de Riad nem reconhecer Israel como um Estado.

Em segundo lugar, os aliados americanos estão cada vez mais convencidos de que a cooperação entre os EUA e o Irã ocorrerá inevitavelmente às custas dos árabes e dos israelenses. Essa visão só ganhará força se o Irã for incluído nas negociações de paz da Síria, lideradas por russos e americanos.

Como esses países podem responder? Autoridades israelenses avisaram que não estão atreladas aos termos do acordo – uma ameaça implícita de que a opção militar continua sendo analisada. E lideranças sauditas deram a entender que podem adquirir sua própria arma nuclear, possivelmente vinda do Paquistão.

Mas nenhum desses passos devem ser dados ao longo da duração desse acordo interino. "Nos próximos seis meses a legitimidade de um ataque irá diminuir", disse o ex-chefe da inteligência do Exército de Israel Amos Yadlin.

Mas os EUA e Israel já cooperaram em ocasiões anteriores em ataques cibernéticos contra o Irã – além dos israelenses serem os maiores suspeitos dos assassinatos de cientistas nucleares iranianos.

Ou seja, ações secretas não podem ser descartadas, apesar do fato de que elas irritariam profundamente os Estados que participaram do acordo.

Mas se um acordo mais duradouro não suceder esse entendimento inicial – e o Irã retomar sua expansão nuclear – o risco de ataques aéreos partindo de Israel se elevará de forma significante. Nesse caso os sauditas não ofereceriam apoio direto, mas poderiam permitir à aviação israelense que utilize seu espaço aéreo.

A colaboração de inteligência entre os dois países também deve crescer, pois ambos vão querer encontar evidências de que Teerã não está cumprindo sua parte no acordo.

O acordo de Genebra é um passo modesto que ainda necessita de muito desenvolvimento. Mas para alguns aliados americanos é um sinal de problemas no futuro. Sua prioridade será trabalhar para que esse "degelo nuclear" não se transforme em um realinhamento regional.
 
BBC
DeOlhOnafigueira

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