quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Zona desnuclearizada no Oriente Médio ajudará a resolver problema iraniano


O Ocidente continua obcecado com o problema do Irã. Ao que parece, o único meio de equacionar a questão seria avançar rumo à criação na região conturbada uma zona livre de armas nucleares.

O mundo árabe apóia esta idéia, constata o professor catedrático de Linguística da Universidade de Tecnologia de Massachusetts, Noam Chomsky, contatado pela emissora Voz da Rússia.

– Há quem afirme que o Presidente Obama se concentra mais em problemas da política interna, podendo os problemas internacionais, tratados com cuidado por ele durante o primeiro mandato, ser relegados para o segundo plano. Concorda com tal opinião ?

– Acho que, nos primeiros anos do mandato presidencial, a Administração norte-americana se centrou mais em assuntos da política interna. Barack Obama chegou ao poder na altura de acentuada recessão econômica quando era necessário tomar medidas urgentes para remediar a situação. Creio que, no segundo mandato, a tônica será posta na mesma área, enquanto na esfera da política externa o problema central será, como dantes, a situação em torno do Irã. Foi, alias, este problema que se tornou uma pedra de tropeço nos debates televisivos entre Obama e Romney.

Importa compreender que, no caso de uma ameaça militar real, existe um método mais conveniente de reagir à eventual projeção de armas nucleares pelo Irã. Como se sabe, o Ocidente se manifesta mais apreensivo com este problema do que o resto do mundo, em particular o mundo árabe. A solução do problema passa pela criação nessa região de uma zona livre de armas nucleares. Tal perspectiva não é utópica, sendo apoiada, por sinal, no mundo inteiro e pelos países árabes. Ao contrario de Bush junior, Obama confirmou que isto serviria também os interesses dos EUA.

Em dezembro de 2012, devia realizar-se em Helsinque uma conferência internacional sobre esta temática. Israel se recusou a participar e o Irã confirmou em novembro a intenção de vir a assistir aos seus trabalhos. Obama se viu obrigado a cancelá-la a poucos dias do seu início. A mídia dos EUA silenciou este fato. Por isso, se os EUA estão realmente preocupados com a eventual existência de armas nucleares no Irã, se a ameaça realmente persiste, será necessário avançar nesta direção. Mas, apesar disso, o processo está a ser protelado por uma razão simples: Israel possui as armas nucleares e os EUA não querem que esta questão seja debatida.

– Pode-se supor que a política de Obama admita o uso de altas tecnologias na condução de guerra?

– Sem dúvida, os EUA não escondem estar a utilizar novos métodos de condução de operações militares, inclusive ciberataques às instalações iranianas. O Pentágono qualifica tais ataques como ações militares, o que pressupõe a eventualidade de golpes de retaliação...

– Se os EUA considerarem que foram atacados via Internet, poderá isto servir de pretexto para o início de guerra contra outro Estado?

– Não há nada mais simples do que inventar um pretexto. Quando Hitler ocupou a Polônia, dizia ter defendido a Alemanha contra o "terror branco de polacos". Quando o Japão anexou o norte da China em 1931 presumia responder, dessa forma, ao Incidente de Mukden que não passou de uma sabotagem ferroviária quando os militares japoneses explodiram uma seção da estrada de ferro perto da cidade de Mukden. Por isso, é fácil inventar pretextos para deflagrar guerras ou conflitos.

– Concorda com peritos que afirmam ser o estabelecimento do controle sobre o caos no Oriente Médio a maior meta das operações norte-americanas naquela zona?

– Em muitos aspectos, isto se explica pelo desejo de exercer o controle sobre os recursos energéticos no Oriente Médio. O mesmo se refere à região do Oceano Pacífico. O controle dos recursos mundiais tem que ser visto como um problema fundamental. O Oriente Médio compreende isso muito bem, declarando que irá defender os seus interesses. Resumindo, este é um problema sério, capaz de acarretar mudanças alarmantes.
 
Voz da Rússia
DeOlhOnafigueira

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