quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Falta de ação dos Estados Unidos levou a cataclismos no oriente médio?

Futuro da região depende de dedicação do presidente norte-americano, Barack Obama
Crianças sírias observam uma pintura em Homs, um dos principais centros de resistência na guerra civil contra o regime da Bashar Al Assad
No dia 22 de janeiro, os israelenses foram às urnas em uma eleição que provavelmente irá reeleger o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para seu terceiro mandato; assim como a atual, a próxima coalizão governista de Israel provavelmente contará com a força da direita e dos partidos religiosos.

Ainda assim, o segundo mandato do presidente Obama poderá oferecer uma oportunidade fundamental para o reinício do processo de paz entre Israel e a Palestina. No primeiro mandato, Obama fugiu do processo, acreditando que os Estados Unidos só poderiam mediá-lo caso as partes envolvidas desejassem a paz – certo de que novos diálogos seriam improdutivos.

Isso é um erro. O maior inimigo de uma solução de dois Estados é o pessimismo de ambos os lados. A menos que o presidente Obama utilize seu novo mandato para mostrar liderança, a região não terá lugar para os moderados – nem para os Estados Unidos.

A base lógica para a falta de ação reside em quatro suposições relacionadas: a de que forças estridentes dominam porque suas ideologias são dominantes; a de que a atual situação – as tendências demográficas que levariam à emancipação da Palestina ocupada, uma "solução de um Estado" e o fim de Israel como uma democracia judaica – eventualmente levaria Israel a perceber o que aconteceria no futuro; a de que o status de Estado-observador conquistado pelo presidente palestino Mahmoud Abbas junto às Nações Unidas não vale nada, porque o governo da Cisjordânia está corrompido, disfuncional e sem apoio; e a de que, em vista do poder do lobby israelense, as mãos de Obama estariam atadas.

Essas suposições parecem assustadoras, mas não são verdadeiras. Em primeiro lugar, embora o Hamas, grupo de islamistas que controla a Faixa de Gaza, e a extrema direita israelense, que está à frente dos assentamentos, estejam ganhando popularidade, isso não é resultado de suas ideologias, mas do apoio de jovens desesperados com a extrema violência da ocupação.

No mês passado, uma pesquisa feita pelo Centro S. Daniel Abraham pela Paz no Oriente Médio, com sede em Washington, revelou que dois terços dos israelenses apoiariam um acordo de dois Estados, mas que até mesmo os israelenses de esquerda acreditam que Abbas não seria capaz de chegar a decisões que colocassem um fim ao conflito. No mesmo mês, o Centro Palestino de Política e Pesquisa, em Ramallah, revelou que 52 por cento dos palestinos eram favoráveis à solução de dois Estados (uma queda, se comparado aos três quartos que apoiavam a opção em 2006, antes dos dois ataques israelenses à Faixa de Gaza). Contudo, dois terços dos palestinos acreditam que as chances de um Estado palestino plenamente funcional sejam praticamente inexistentes nos próximos cinco anos. Em resumo, moderados de ambos os lados ainda querem a paz, mas primeiro precisam de esperança.

Em segundo lugar, a atual situação não favorece uma solução de um Estado, mas uma limpeza étnica ao estilo da Bósnia, que poderia surgir de repente e se espalhar tão rápido quanto o conflito em Gaza no ano passado, chegando rapidamente às cidades árabes em Israel. Israelenses de direita e líderes do Hamas acabarão causando um conflito catastrófico. Abbas, cujo partido Fatah controla a Cisjordânia, abriu mão da violência, mas sem sinais viáveis de um caminho diplomático é impossível unir seu povo e apoiar novos diálogos. Caso seu governo desmorone; se mais territórios palestinos forem anexados (conforme deseja a extrema direita israelense); ou se o impasse na Faixa de Gaza levar a uma invasão israelense por terra, o derramamento de sangue e os protestos em todo o mundo árabe se tornarão inevitáveis. Esse caos também poderia provocar o lançamento de mísseis do Hezbollah, grupo militante xiita apoiado pelo Irã e com sede no Líbano.

Em terceiro lugar, o Estado palestino não é um ficção imposta pelo Fatah, mas um caminho em direção ao desenvolvimento econômico, apoiado por doações e pela diplomacia internacional e que a maior parte dos palestinos quer que dê certo. O território possui uma economia de quatro bilhões de dólares, com uma rede cada vez maior de empresários e profissionais, além de um sistema bancário com aproximadamente oito bilhões de dólares em depósitos. Um robusto setor privado poderia se desenvolver, caso tivesse chance.

Em quarto lugar, a necessidade do apoio americano não significa apenas diálogos diretos. O governo dos Estados Unidos poderia promover investimentos na educação palestina e na sociedade civil, para não colocar em risco a segurança israelense. Obama poderia exigir que Israel concedesse livre acesso a talentos, fornecedores e clientes às empresas palestinas. O presidente também poderia exigir a construção de um corredor de transporte entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, conforme Israel prometeu nos acordos de Oslo, em 1993.

Os Estados Unidos cumprem o papel de facilitador. A mensagem que enviam ajuda a determinar se as partes envolvidas irão em direção à paz ou à guerra. Apesar das relações frias com Netanyahu, a Casa Branca não demonstrou ser um bom mediador ao se opor à entrada da Palestina nas Nações Unidas, além de vetar a condenação dos assentamentos.

Ao nomear Chuck Hagel para liderar o Pentágono, Obama ignorou corretamente os ataques de grupos "pró-Israel" (na verdade, de grupos pró-Netanyahu). Ele deveria escolher um negociador que tivesse a confiança de todos os envolvidos – por exemplo, Bill Clinton, ou Colin L. Powell. O presidente deveria liderar e não impedir tentativas europeias de chegar a um acordo. Além disso, Obama afirmou que os assentamentos levariam Israel ao isolamento global; mas também deveria dizer que colocam em risco os interesses americanos.

Washington possui uma vantagem fundamental, mas isso não irá durar para sempre. Quando os Estados Unidos entram na jogada, se tornam um fator de preocupação para ambos os lados. Mas caso o país continue afastado, a desesperança irá tomar conta da situação.

(Bernard Avishai é um jornalista israelense-americano em Jerusalém. Sam Bahour é um consultor empresarial palestino-americano em Ramallah, na Cisjordânia.)
 
R7
DeOlhOnafigueira 

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